Para quebrar a inércia que me atinge (inclusive no blog), vou colocar uma música que está no "Nonstop mode: ON". Letra do Vitor Ramil, cantor gaúcho maravilhoso (inclusive ganhou esse ano o prêmio TIM de melhor cantor pelo voto popular), e talvez seja mais conhecida na voz da Maria Rita: "Estrela, estrela". Letra pura, melodia sublime. E o gênio a compôs quando tinha apenas 17 aninhos...
Em breve (acredito, já que quebrei a tal da inércia- e tomara q não dê para remendá-la, nem com super bonder) posto a segunda parte dos agradecimentos e mais algumas coisinhas que estão me ocorrendo na cabecinha loira...
Um beijo para quem vez por outra passa aqui atrás de alguma novidade:D
(Dica: Baixem o álbum "Satolep sambatown" do Vitor Ramil acompanhado pelo Marcos Suzano).
Para ouvir Estrela, Estrela: http://dc63.4shared.com/download/47776063/550af749/04_-_Vitor_Ramil_-_Estrela_Estrela.mp3?tsid=20080830-224809-c4761ee3
Estrela, Estrela
Vitor Ramil
Estrela, estrela
Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer
Brilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se é
No corpo nu
Da constelação
Estás, estás
Sobre uma das mãos
E vais e vens
Como um lampião
Ao vento frio
De um lugar qualquer
É bom saber
Que és parte de mim
Assim como és
Parte das manhãs
Melhor, melhor
É poder gozar
Da paz, da paz
Que trazes aqui
Eu canto, eu canto
Por poder te ver
No céu, no céu
Como um balão
Eu canto e sei
Que também me vês
Aqui, aqui
Com essa canção
domingo, 31 de agosto de 2008
quarta-feira, 11 de junho de 2008
MEEEEEESTREEE, UAAAALAAA!!!
AGRADECIMENTOS I
(os oficiais)
(os oficiais)
Queridos,
enfim o suplício chegou ao fim. Para a concretização de um trabalho científico há o envolvimento de muitas pessoas e intituições. E sempre há muito o que agradecer. Segue abaixo a dedicatória e os agradecimentos que coloquei no trabalho.
Ai, não estou me contendo de felicidade!!! Uma vontade gigante de sair gritando (deixa mais tarde quando for comemorar e passar pela via Costeira... Já virou ritual do pessoal do laboratório baixar o vidro e dar um berro qdo passa por lá!) haahahhahahaha
(Obs.: NO próximo post os (não menos importantes) agradecimentos não oficiais! :D)
______________________________________________________________________
DEDICATÓRIA
A minha mãe e minhas irmãs,
Porque tudo fica sempre mais fácil com elas.
Porque são imbatíveis como melhores companhias.
_______________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
● A Deus e minha família pelo apoio, conforto e diminuição do fardo.
● Ao Professor Mário pela orientação, amizade e oportunidade de trabalhar com ele e demais integrantes do grupo.
● A Professora Teresa Jansen pela disponibilidade, amizade, incentivo e sugestões.
● Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde pela chance de ser aluna e me desenvolver cientificamente.
● Aos Professores Aldo, Áurea, Brandão, Sebastião e Adenilson pelas correções, sugestões e incentivos.
● Aos colegas do laboratório do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (UERJ) pelo acolhimento e ajuda, de perto e de longe.
● Aos colegas da UFPE e Amália e Ítalo (UFRN) pelo apoio técnico e disponibilidade.
● Aos meus amigos que durante todo esse processo me ajudaram e me compreenderam.
● Aos demais e não menos importantes que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse trabalho.
enfim o suplício chegou ao fim. Para a concretização de um trabalho científico há o envolvimento de muitas pessoas e intituições. E sempre há muito o que agradecer. Segue abaixo a dedicatória e os agradecimentos que coloquei no trabalho.
Ai, não estou me contendo de felicidade!!! Uma vontade gigante de sair gritando (deixa mais tarde quando for comemorar e passar pela via Costeira... Já virou ritual do pessoal do laboratório baixar o vidro e dar um berro qdo passa por lá!) haahahhahahaha
(Obs.: NO próximo post os (não menos importantes) agradecimentos não oficiais! :D)
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DEDICATÓRIA
A minha mãe e minhas irmãs,
Porque tudo fica sempre mais fácil com elas.
Porque são imbatíveis como melhores companhias.
_______________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
● A Deus e minha família pelo apoio, conforto e diminuição do fardo.
● Ao Professor Mário pela orientação, amizade e oportunidade de trabalhar com ele e demais integrantes do grupo.
● A Professora Teresa Jansen pela disponibilidade, amizade, incentivo e sugestões.
● Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde pela chance de ser aluna e me desenvolver cientificamente.
● Aos Professores Aldo, Áurea, Brandão, Sebastião e Adenilson pelas correções, sugestões e incentivos.
● Aos colegas do laboratório do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (UERJ) pelo acolhimento e ajuda, de perto e de longe.
● Aos colegas da UFPE e Amália e Ítalo (UFRN) pelo apoio técnico e disponibilidade.
● Aos meus amigos que durante todo esse processo me ajudaram e me compreenderam.
● Aos demais e não menos importantes que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse trabalho.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Antes Que Ninguém Aguente Mais Ouvir!
Dando uma passadinha aqui para um serviço de utilidade pública:
Quem viu a nova novela-das-oito-que-passa-as-nove, deve ter parado para prestar mais atenção à música tema da personagem da Patrícia Pilar. Sim, é dele! O galego do meu coração! Lenine em mais uma trilha novelística desse Brasil Global.
Antes que todos fiquem exaustos dessa música, e que pelo menos 8 contatos do msn de vocês esteja com trecho dela como nick (como aconteceu com "Para Tu Amor, do Juanes-> que quase ninguém que o citava lembra mais que é), vou postar aqui o nome, autores e a letra. O novo album do galego, o "Labiata", deve sair até setembro, e pelo que se diz por ai está mais para o "rock", o tema da novela parece ser o único mais "baladinha".
Ah, destaque também para a música abertura da novela, do bajofondo tangoclub, misturinha bem sucedida do tango com eletrônico. E de quebra Nando Reis.
Oh, eu que tinha me prometido, como sempre, que não ia dar nenhuma brechadinha na nova novela pra não me "aviciar"...
____________________________________________________________________________
É O Que Me Interessa
(Lenine/Dudu Falcão)
Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
A sombra é uma paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Por trás do seu sossego, atraso o meu relógio
Acalmo a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussure em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.
Quem viu a nova novela-das-oito-que-passa-as-nove, deve ter parado para prestar mais atenção à música tema da personagem da Patrícia Pilar. Sim, é dele! O galego do meu coração! Lenine em mais uma trilha novelística desse Brasil Global.
Antes que todos fiquem exaustos dessa música, e que pelo menos 8 contatos do msn de vocês esteja com trecho dela como nick (como aconteceu com "Para Tu Amor, do Juanes-> que quase ninguém que o citava lembra mais que é), vou postar aqui o nome, autores e a letra. O novo album do galego, o "Labiata", deve sair até setembro, e pelo que se diz por ai está mais para o "rock", o tema da novela parece ser o único mais "baladinha".
Ah, destaque também para a música abertura da novela, do bajofondo tangoclub, misturinha bem sucedida do tango com eletrônico. E de quebra Nando Reis.
Oh, eu que tinha me prometido, como sempre, que não ia dar nenhuma brechadinha na nova novela pra não me "aviciar"...
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É O Que Me Interessa
(Lenine/Dudu Falcão)
Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
A sombra é uma paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Por trás do seu sossego, atraso o meu relógio
Acalmo a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussure em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Lugar Indesejado
Úmido, escuro, silencioso.
Daqui não ligo para os amigos para dizer como estou, ou perguntar como lhes anda a vida.
Não faço meu papel aglutinador.
Não procuro conversa, pois há coisas que não quero respoder (ou falar sobre elas ainda).
Aqui sempre acontece algo no exato momento em que pretendia calçar meus tênis e correr no calçadão.
Minha saúde não anda como queria. Não sei se pelo lugar ou pela habitante.
Contrario o subtítulo da peça "O tempo da chuva" (Henrique Fontes), que questionava algo assim: "Por que as pessoas não saem quando chove lá fora e querem sair quando chove nelas mesmas?". Chove em mim, e muito. Mesmo assim não saio. No máximo tenho dado uma brechadinha ali e logo volto.
("Quanto leva uma chuva?
Quantos anos para que isso seque?
Quantas horas até que leve embora isso que chove em mim?"- HF)
Minhas faxinas matinais não mais ocorrem. Não diariamente.
Organizar a casa me dá a impressão de que a partir dali posso fazer qualquer coisa.
Faxinas suspensas, pensamentos desorganizados. Rotina interrompida.
Não consigo direcionar as ações às coisas mais urgentes. E bem urgentes.
Consigo ler qualquer coisa, menos o que mais me é necessário hoje.
Tenho dúvidas se o Amanhã dará conta de realizar tudo que estou atribuindo a ele.
Nesse lugar o hoje é sonolento e sem apetite.
Esse lugar é nauseante.
E a náusea chega a ser soberana. Determinante.
A Paciência não habita aqui. E só chego até à janela quando sou convocada pelos meus. Meus queridos, os que são por mim.
Chega, quero sair daqui.
Não sei se aqui há mais alguém.
Se tiver, por gentileza, o último que sair tranque a porta apague a luz.
Daqui não ligo para os amigos para dizer como estou, ou perguntar como lhes anda a vida.
Não faço meu papel aglutinador.
Não procuro conversa, pois há coisas que não quero respoder (ou falar sobre elas ainda).
Aqui sempre acontece algo no exato momento em que pretendia calçar meus tênis e correr no calçadão.
Minha saúde não anda como queria. Não sei se pelo lugar ou pela habitante.
Contrario o subtítulo da peça "O tempo da chuva" (Henrique Fontes), que questionava algo assim: "Por que as pessoas não saem quando chove lá fora e querem sair quando chove nelas mesmas?". Chove em mim, e muito. Mesmo assim não saio. No máximo tenho dado uma brechadinha ali e logo volto.
("Quanto leva uma chuva?
Quantos anos para que isso seque?
Quantas horas até que leve embora isso que chove em mim?"- HF)
Minhas faxinas matinais não mais ocorrem. Não diariamente.
Organizar a casa me dá a impressão de que a partir dali posso fazer qualquer coisa.
Faxinas suspensas, pensamentos desorganizados. Rotina interrompida.
Não consigo direcionar as ações às coisas mais urgentes. E bem urgentes.
Consigo ler qualquer coisa, menos o que mais me é necessário hoje.
Tenho dúvidas se o Amanhã dará conta de realizar tudo que estou atribuindo a ele.
Nesse lugar o hoje é sonolento e sem apetite.
Esse lugar é nauseante.
E a náusea chega a ser soberana. Determinante.
A Paciência não habita aqui. E só chego até à janela quando sou convocada pelos meus. Meus queridos, os que são por mim.
Chega, quero sair daqui.
Não sei se aqui há mais alguém.
Se tiver, por gentileza, o último que sair tranque a porta apague a luz.
(e arremesse a chave do alto da Ponte Newton Navarro)
sábado, 31 de maio de 2008
Medo da Eternidade
Algumas coisas são fantásticas para nos tirar da realidade e promover momentos (nem que sejam mínimos) de sublimação. Já comecei a falar disso no "Banho da Madrugada" e vou completar o raciocínio em outro momento. Recentemente passei por uma situação bem complicadinha, e estava a três quarteirões da Av Paulista. Andei como uma flecha toda aquela avenida doida (que eu amo!). O frio estava de rachar mas minha cabeça estava tão quente que fui me despindo dos casacos até restar uma camiseta. Sem saber (e sem ter) o que fazer, andei, andei, andei e parei na Livraria Cultura. Li três contos da Clarice Lispector e ouvi (pelo menos os 30 segundos que permitem) as 32 faixas do novo album (duplo!) do magnânimo Jorge Drexler. Voltei pra casa onde estava hospedada com as idéias mais organizadas, tentando ver os habitantes (e as situações) que passavam por mim sob a ótica da Clarice e cantarolando os minutos não liberados pela livraria. Devo ter cantado as 32 faixas, palavra por palavra, e não duvido que tenha sido em ordem.
Enfim, segue um texto da Clarice que me marcou desde a escola, daquelas aulas de português ora enfadonhas, ora reveladoras. Só ela pra ver o mundo assim, impregnando a simplicidade da maior intensidade que se possa alcançar.
Lá vai!
_________________________________________________________________________________________
Enfim, segue um texto da Clarice que me marcou desde a escola, daquelas aulas de português ora enfadonhas, ora reveladoras. Só ela pra ver o mundo assim, impregnando a simplicidade da maior intensidade que se possa alcançar.
Lá vai!
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Medo da Eternidade
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
(LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. p. 446-8.)
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
(LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. p. 446-8.)
sábado, 10 de maio de 2008
Isso Tudo e Muito, Muito Mais!
Sabem qual é o grande problema da minha mãe? Ela é extremamente inteligente! Muito! Sim, isso é um problema! Na cabeça dela tudo é tão simples que nós, seres pertencentes à normalidade, ficamos intimidados, indagando-nos: "Por que isso é tão complexo pra mim???"
Ela é mãe, administradora, orientadora, educadora, produtora de carões homéricos (tudo para o nosso bem...) e de carinhos impagáveis. Seu colo e seu cafuné superam os efeitos terapêuticos de suas agulhas, apertos e gotinhas de florais (aos que não têm acesso ao conjunto colo/cafuné fiquem satisfeitos com os outros tratamentos, que fazem com que vários amigos/pacientes a chamem carinhosamente de "santa Lúcia").
Dona de um humor escrachado e de tiradas inesperadas. Faz de tudo por nós, suas filhinhas queridas. Sou grata por tudo. E esse tudo é muita coisa. Esse tudo exprime todas as coisas que estão ao seu alcance. A coisa é tão forte que até o que reclamo nela já estou fazendo I-G-U-A-L-Z-I-N-H-O!
Nem precisa dizer que eu a amo. Muito. E sempre mais. Que a cada dia ela nos surpreende com sua capacidade de superar qualquer dificuldade. Que mesmo quando ela aperreia nosso juizo a gente só dorme se uma der um beijo de boa noite na outra. E que seja assim, para todo o sempre, amém!
PS.: Eu tenho cer-te-za que ela, naquela hora do aperto, bota as notas machos perto das fêmeas na carteira pra procriarem... porque dar conta de criar três filhas com tudo que têm direito não é moleza não!!!
Ela é mãe, administradora, orientadora, educadora, produtora de carões homéricos (tudo para o nosso bem...) e de carinhos impagáveis. Seu colo e seu cafuné superam os efeitos terapêuticos de suas agulhas, apertos e gotinhas de florais (aos que não têm acesso ao conjunto colo/cafuné fiquem satisfeitos com os outros tratamentos, que fazem com que vários amigos/pacientes a chamem carinhosamente de "santa Lúcia").
Dona de um humor escrachado e de tiradas inesperadas. Faz de tudo por nós, suas filhinhas queridas. Sou grata por tudo. E esse tudo é muita coisa. Esse tudo exprime todas as coisas que estão ao seu alcance. A coisa é tão forte que até o que reclamo nela já estou fazendo I-G-U-A-L-Z-I-N-H-O!
Nem precisa dizer que eu a amo. Muito. E sempre mais. Que a cada dia ela nos surpreende com sua capacidade de superar qualquer dificuldade. Que mesmo quando ela aperreia nosso juizo a gente só dorme se uma der um beijo de boa noite na outra. E que seja assim, para todo o sempre, amém!
PS.: Eu tenho cer-te-za que ela, naquela hora do aperto, bota as notas machos perto das fêmeas na carteira pra procriarem... porque dar conta de criar três filhas com tudo que têm direito não é moleza não!!!
quarta-feira, 30 de abril de 2008
E o Mórbido Tornou-se Cômico
Talvez por eu não ter muita frescura, ter sempre algum pitaco a dar ou por gostar escrachadamente da esculhambação, acabo presenciando (ou participando) de diálogos inusitados, por vezes bizarros.
Contexto: estava na casa de uma família que são duas irmãs. Todo mundo muito a vontade na mesa do almoço (e eu lá, quase membro do clã). A matriarca sempre achou que a mais velha fosse facilmente influenciável, até boba. O que de fato não acontece, ela é lentinha mas duma personalidade forte de fazer orgulho. Então ocorreu da mãe perceber a primogênita passar vários dias mais tristinha, chorosa, e logo começou a especular o motivo. Acreditou que poderia ser por causa daquele sujeitinho salafrário que ela de vez em quando ficava. Perguntou e a filha nada disse. Então o coração de mãe começou a ficar angustiado (sim, ela é bem exagerada) e culminou numa ligação pra uma amiga da filha sofredora:
- Alô? Maricota*, você sabe porque Francisnalva* tá triste assim? Genival* aprontou com ela foi?
- Tia Joana, num tô sabendo de nada não.
- Maricota, pode falar, você sabe que aqui não tem besteira. O que foi? Ela deu pro Genival foi? Pode falar! Deu e se arrependeu?
Maricota teve uma crise de riso homérica. Quando retomou o ar respondeu:
-Tia, eu e Francisnalva não temos mais jeito não!!! Estamos zeradas, quando morrermos vamos ser enterradas em um caixão branco!!!
A conversa na mesa partiu daí, a Lacradinha da Silva Sauro contando o que a progenitora tinha feito. A irmã mais nova tinha tido um namorado há pouco tempo, e como se diz aqui no nordeste, tinha “coisado” com ele. Quando a mais velha falou do caixão branco, a mais nova imendou, toda alegrinha:
-Ah, eu também quero um brancooooo!!!
(cri... cri... cri... silêncio no recinto)
E o silêncio foi quebrado pela frase da mãe, que desencadeou uma crise de riso coletiva:
-Janete*, se você quiser o seu pode ser rosa... branco não dá mais né? Se fizer questão do branco, a gente põe aqueles apliques de florzinhas, vai ficar um luxo!
No mínimo inesperado pra uma conversa familiar em plena mesa do almoço. Exemplo máximo de liberdade de diálogo entre mãe e filhas. E da capacidade de tornar cômico até a mórbida escolha da cor do caixão...
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos envolvidos.
Contexto: estava na casa de uma família que são duas irmãs. Todo mundo muito a vontade na mesa do almoço (e eu lá, quase membro do clã). A matriarca sempre achou que a mais velha fosse facilmente influenciável, até boba. O que de fato não acontece, ela é lentinha mas duma personalidade forte de fazer orgulho. Então ocorreu da mãe perceber a primogênita passar vários dias mais tristinha, chorosa, e logo começou a especular o motivo. Acreditou que poderia ser por causa daquele sujeitinho salafrário que ela de vez em quando ficava. Perguntou e a filha nada disse. Então o coração de mãe começou a ficar angustiado (sim, ela é bem exagerada) e culminou numa ligação pra uma amiga da filha sofredora:
- Alô? Maricota*, você sabe porque Francisnalva* tá triste assim? Genival* aprontou com ela foi?
- Tia Joana, num tô sabendo de nada não.
- Maricota, pode falar, você sabe que aqui não tem besteira. O que foi? Ela deu pro Genival foi? Pode falar! Deu e se arrependeu?
Maricota teve uma crise de riso homérica. Quando retomou o ar respondeu:
-Tia, eu e Francisnalva não temos mais jeito não!!! Estamos zeradas, quando morrermos vamos ser enterradas em um caixão branco!!!
A conversa na mesa partiu daí, a Lacradinha da Silva Sauro contando o que a progenitora tinha feito. A irmã mais nova tinha tido um namorado há pouco tempo, e como se diz aqui no nordeste, tinha “coisado” com ele. Quando a mais velha falou do caixão branco, a mais nova imendou, toda alegrinha:
-Ah, eu também quero um brancooooo!!!
(cri... cri... cri... silêncio no recinto)
E o silêncio foi quebrado pela frase da mãe, que desencadeou uma crise de riso coletiva:
-Janete*, se você quiser o seu pode ser rosa... branco não dá mais né? Se fizer questão do branco, a gente põe aqueles apliques de florzinhas, vai ficar um luxo!
No mínimo inesperado pra uma conversa familiar em plena mesa do almoço. Exemplo máximo de liberdade de diálogo entre mãe e filhas. E da capacidade de tornar cômico até a mórbida escolha da cor do caixão...
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos envolvidos.
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